
Cozinha antiga
Imagem: WEB
OUTRORA
© 2009 Josselene Marques
Hoje, folheando uma revista,
vi uma foto de uma casa antiga na qual se destacava um dos cômodos que, no
passado, era o mais visitado e agradável de estar. Se você pensou em cozinha,
acertou. Exatamente. Outrora, as cozinhas eram espaçosas e, geralmente, as mães
e as avós eram as responsáveis pela preparação das iguarias apreciadas por
todos. Recordo-me que sempre havia frutas, um bolo ou outro postre sobre a
mesa comprida que juntamente com os tamboretes, o pilão, as máquinas de moer
carne e milho, a balança, o fogareiro ou forno à lenha e os demais utensílios
domésticos compunham a mobília deste espaço deveras acolhedor.
A cozinha era o território
preferido tanto de quem gostava de cozinhar quanto de quem apenas desejava
degustar os deliciosos pratos ou, simplesmente, sentar-se e conversar.
Apesar de ser relativamente
jovem, ainda alcancei esse tempo. Era bem criança, mas me lembro. Na
adolescência, tive o privilégio de contar com quatro professoras de culinária:
minha avó, minha mãe e duas tias. Chego a salivar, quando me vem à lembrança a
carne assada que minha avó preparava. Deixava-a tão tenra que, antes de
comê-la, eu a desfiava com os dedos – previamente bem lavados, naturalmente!
Nas camadas mais humildes da
população, as refeições eram servidas na própria cozinha e, após
alimentarem-se, todos ajudavam a lavar e enxugar a louça. Era uma festa!
Parecia um mutirão. Todos alegres e satisfeitos, cantando, dialogando; enfim,
vivendo de acordo com a sua realidade, sem estresse, sem pressa. Naquela época,
os alimentos eram naturais, tinham mais sabor e nós tínhamos tempo de senti-lo.
Hoje, as cozinhas das casas e
dos apartamentos populares são tão pequenas que mal permitem a uma pessoa se
locomover. As mães trabalham fora, para ajudar no orçamento familiar, e são
raras as que têm tempo de cozinhar. Muitas acabam optando por comerem de
marmita ou quentinha. Aquele bolo ou doce diário somente, talvez, quem sabe no
domingo, se der tempo. As conversas ficaram inviáveis – mesmo que as pessoas
tivessem tempo, não haveria espaço físico suficiente. A carne já vem moída do
supermercado. Quanto ao milho, nada que um liquidificar ou multiprocessador não
dê conta. As refeições em família são pouco frequentes, ou porque os horários
não coincidem ou devido à distância entre os lares e os locais de trabalho.
Desta forma, não resta outra opção senão fazer um lanche nas imediações ou no
próprio estabelecimento comercial ou industrial. Já a lavagem da louça,
dependendo das “normas da casa”, é feita, à noite e por escala, pela mãe ou
pela irmã mais velha. No tocante à alimentação, atualmente, seja em casa ou no
trabalho, mal mastigamos – e isto é péssimo. Praticamente, não conseguimos nos
concentrar para sentirmos o gosto dos alimentos devido às múltiplas atividades
que temos de desempenhar e ao tempo reduzido que nos sobra para satisfazer esta
necessidade básica. Pensando bem, não sei se valeria a pena senti-lo, pois com
tantos alimentos geneticamente modificados e amadurecidos artificialmente o
sabor não seria o mesmo.
Com base nas minhas
recordações e reflexões, embora valorizando o progresso, a praticidade e o
conforto, creio que eles nos custam muito caro, já que nos privam de uma vida
simples, saudável e, com certeza, mais feliz.
5 comentários:
Josselene, minha amiga, gosto de textos assim, bem escritos, emocionantes, falando sobre as coisas simples da vida de outrora e lembrando momentos que nos fazem refletir no tocante ao preço que pagamos ante tantas mudanças nem tão boas assim. As cozinhas do meu tempo de criança e adolescente também eram assim: comidas caseiras servidas quentinhas, cocadas de coco e rapadura, arroz de leite, carne de porco(sadia, como todas as carnes do passado servidas à família), feijão verde debulhado na hora e café moído em casa mesmo e fumaçando de tão quente.
Sua crônica abriu na minha memória o arquivo de muitas lembranças de tempos que jamais voltarão.
Poético abraço do amigo Gilbamar.
Ah! Josselene, como sou privilegiado por ter você como amiga, não só pelo prazer de sua amizade, mas por desfrutar de uma viagem maravilhosa pela imensidão do tempo, desafiando às leis da física e voltar ao bom tempo que eu era feliz e não sabia; você me possibilitou, com esse ótimo texto, "visualizar" o tempo em que eu era apenas Pretinho de Zulmira, o moleque que corria pelas ruas da doze anos atrás de uma bola ou fazendo os mandados de minha mãe indo comprar querosene com uma garrafa de refrigerante fazia, lá na mercearia de seu Lopinho ou sabão lá na fabrica de sabão dois irmãos dos filhos de seu Ananias Bedéu para ela ir lavar roupas no rio Mossoró ali por trás da churrascaria "o sujeito"; Que tempo bom, que tempo que você me faz relembrar. Por essas e outras é que sou um privilegiado em ser seu amigo.
Parabéns pelo ótimo texto e que o Espírito Santo cada vez mais lhe ilumine para nos presentear com essas preciosidades.
Bj Nogueira e Rosa.
É verdade!Hoje a vida está corrida demais, as pessoas mal se encontram.
Lembro da cozinha de minha vó... Era grande, cheirosa e cheia de histórias. Ah, que saudades!
Beijo
Jossi, comparto el mismo pensamiento, yo siento mucha nostalgia por aquella casa donde me criè, todo era sencillo y humilde pero lleno de magia.Hoy el confort y los avances tecnològicos traen mas problemas que soluciones.Excelente post, amiga.
Gilbamar:
Amei sua visita! Você completou a minha postagem me ajudando a relembrar mais coisas. Obrigada, hein?!
Volte sempre que puder!
Abraços para você e Ana Kaddja.
Nogueira:
Muito obrigada pelo carinho. Também sou privilegiada por ter sua amizade.
Volte sempre.
Abraços para você e Dona Rosa.
Ilaine:
Concordo com você, amiga.
Também vivo de saudades da cozinha de minha avó. Era uma delícia em todos os sentidos e foi a minha primeira escola de culinária... rsrs
Volte quando puder. Será sempre um prazer recebê-la.
Beto:
Olá, amigo Beto:
Sempre presente! Obrigada!
Concordo com você em tudo.
Volte sempre!
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